terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Estagnação da América


O mundo de hoje está a ser guiado por uma locomotiva que se chama Estados Unidos da América. A nível político, económico e, também, militar. Só que esta América sofre de vários problemas que, por sua vez, são também absorvidos pelo resto do comboio, o resto do mundo. Um desses grandes problemas prende-se com a cultura, e outro com uma certa fadiga e mesmo fraqueza civilizacional.


Neste aspecto podemos mesmo interrogar-nos se esse grande país tem identidade própria, ou então se está a impor ao mundo aquilo que não é seu, ou seja, os Estados Unidos podem estar num ponto tal de status quo, que, como é óbvio, tem um efeito de cansaço enorme e já não conseguem perceber o que se passa à sua volta. O resto do mundo absorve essa farsa encapotada de costumes e vivências não conseguindo, com isso, solução para questões importantes que atravessam o mundo actual.


De facto, e depois da grande crise de 1929, os Estados Unidos da América cresceram a todos os níveis, não obstante a chegada da década de 60 do século passado que deixou a sociedade encalhada, em si mesma, até aos nossos dias. A América é uma nação ostracizada por si própria actualmente, porque parece não ter a qualidade nem a capacidade que revelou desde o início do século XX até à década de sessenta. É elucidativa a personagem do soldado do grande GATSBY quanto à capacidade de se libertar das instituições, das normas e da tradição moral. No meio da grande cidade procurar aventurar-se no mundo alternativo com o propósito de superar o peso da tradição e buscar as suas sensações nesse mundo marginal da cidade de Nova York; é uma viagem do jovem americano à procura de outra América; quer dizer da liberdade humana, da criação individual do seu próprio mundo. Nesta linha temática segue, também, a personagem de Kerouac no romance “Pela Estrada Fora”, uma vez que o próprio autor e personagem autobiográfica da geração “beat”, aliás geração conhecida pela sua insurreição contra o “establishment” americano. Esta geração procurou uma libertação das amarras da tradição americana para colher todo o tipo de sensações em viagem pelas “estradas” que levam ao mundo desconhecido dos sonhos; a personagem procura a aventura à procura de si mesmo perdendo-se dentro do seu próprio Eu. Característica fundamental e comum às duas personagens que representam uma América livre coincidente com dois períodos históricos de enorme desenvolvimento económico e cultural; a primeira obra retrata um jovem que após o período da primeira guerra mundial desperta para o novo mundo das sensações e de um mundo emergente de cultura de libertação e criação humana. A segunda obra alinha no mesmo diapasão, uma vez que o jovem da geração “beat” procura também um mundo de sensações capaz de o libertar das amarras da cultura dominante, sempre em realização de contra cultura.


Deste modo, podemos concluir que a América já não mais se consegue libertar das amaras que estão intrínsecas em toda a sociedade, isto é, existe no povo americano um poder superior ao seu “eu”, algo que está acima das suas intenções de pensamento, não deixando com isto a libertação do espírito.


A Europa também sofre com isso embora cada país seja um caso à parte. Em Portugal, por certo, todos esses acontecimentos se reflectem a um nível superior. Depois da entrada na CEE, em 1986, hoje União Europeia, este pequeno país viveu um dos seus melhores tempos, nomeadamente a nível económico. Essa economia abriu novos caminhos a uma sociedade habituada a sofrer na pele a falta de poder não só a nível económico mas também a nível cultural. O poder do dinheiro arrancou os portugueses para um outro mundo até aí desconhecido pela maioria, um mundo e uma vida cheia de luxúria, um pouco como retrata a obra “ o Grande Gatsby”.


Mas com o passar destes anos, entramos no século XXI, e a maioria da sociedade olha para trás, para esses anos de ouro não conseguindo avançar em direcção ao futuro. Tão só porque, embora em menor escala do que os Estados Unidos da América, o nosso espelho reflecte precisamente esses anos em que nada faltava e tudo era fácil, e com isso é difícil preparar melhor os novos tempos que são de facto muito exigentes.


Por conseguinte, a sociedade americana destes novos tempos vê um país a preto e branco, quer dizer, como se uma névoa cobrisse todo o espírito individual de cada um, e com isso os prendesse a um terreno pantanoso cheio de saudosismo das grandes lutas e conquistas do passado. Todos esses valores morais se estão a perder com o tempo, isto é, hoje parece-me que os americanos estão conformados com a situação imposta e já não existe a criação espontânea, como na geração “ Beat”, nem tão pouco a contestação contra essa situação.


É este o espelho de uma América actual que como disse está presa ao seu passado nos grandes anos quarenta do século XX.

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